Uma Noite com um Vampiro
Conto
de Vampiros estilo: Humor/terror
— Cara! Você é
quadradão mesmo.
Além de não conseguir
nenhuma garota nesta espelunca, ainda tinha que aturar os bêbados que tiravam
sarro do meu terno. Empurrei o bêbado para ele se tocar que não queria papo.
Minha esposa era muito brava. Se chegasse em casa com cheiro de bebida, ia me
encher durante toda a madrugada.
— Esta bem, cara! Não
precisa empurrar. Pelo jeito você não tem sorte com as garotas daqui, mas não
esquenta, você está vendo aquelas ali? As três garotas estão sozinhas. Aqueles
corações estão cheios de luxúria só para nós.
Eu já estava de saída
e, bravo, disse para o bêbado sair da minha frente. Ele levantou as mãos e me
deixou sair do bar. Na volta para casa, no carro, pensava nos foras que tomava
todas as noites – esperava não apanhar quando chegasse em casa – quando, de
repente, ouvi uma buzina.
Eram as três garotas
num carro bem ao lado do meu. Acelerei um pouco, mas elas acompanharam a
velocidade do meu carro. Jogavam beijos e queriam que encostasse. Parece que
minha sorte mudara. Paramos os carros na beira da estrada e elas vieram em
minha direção. Cheias de amor, mal podia acreditar. Até sentir pontas de facas
no peito e um cano de revólver no queixo.
— Seu carro é bom
demais para ficar em suas mãos, seu nerdzinho estúpido.
Levaram meu carro.
Mas que droga! Sentei-me na calçada com as mãos na cabeça. O que fazer? Minha
mulher vai mesmo me matar. Como sou otário. Senti um vento frio e uma mão no
meu ombro. Olhei rapidamente e vi… Era o bêbado, que também me seguira e ria
muito.
— Relaxa, cara!
Parece que as garotas gostaram mais do seu carro do que do seu terno. Não fica
assim, não. Dei um susto nelas. Vamos lá! O seu carro está bem perto.
O que tinha a perder?
Andei com ele por um tempo e, por milagre, meu carro estava mesmo encostado com
as portas abertas. Corri, pensando que elas o abandonaram, mas a realidade era
bem pior. As três garotas, mortas dentro dele. Muito sangue. Vomitei por um bom
tempo. O bêbado colocou a mão em meu ombro e eu me afastei.
— Ah, cara! Eu
recuperei seu carro. Está tudo certinho.
— Certinho? Você as
matou! Você matou todas!
— Você é um
mal-agradecido, mesmo! Está bem. Estou indo, cara. Valeu!
Ele sumiu pelos matos
da beira da estrada. Agora eu estava ferrado mesmo. Nada podia ser pior. Então
escuto um barulho de sirene.
— Levanta as mãos! No
chão! Deitado!
Fui preso. Meu
companheiro de cela era bem legal. Bateu minha cabeça nas grades da janela só
duas vezes. Acho que quebrei o nariz. Suspeito de homicídio! Foi o que o
delegado me disse. Três mulheres mortas, perfurações no pescoço. Falaram que eu
estava brincando de vampiro. Eu contei que fora o bêbado, mas nem me deram
bola.
O meu companheiro de
cela se levanta e vem na minha direção. Acho que quer a janta e pelo olhar, eu
era o prato da noite.
— Já falei para não
olhar para mim.
Quando ia me dar um
soco, seus olhos ficaram arregalados olhando para a janela. Era o vampiro.
— Cara, você está
mesmo encrencado, sorte sua que eu ia passando. Posso ajudar. Você só precisa
me convidar para entrar aí e acertar a fuça desse babaca que está te enchendo.
— Não! Você me
colocou nesta encrenca. Você é um vampiro. Guarda! Guarda! O vampiro está aqui!
Vem ver!
Irritado o grandalhão
tenta me acertar mas eu consigo amortecer o soco com o travesseiro.
— Você não acha que
os meninos vão ouvir você, acha? Ainda mais com o novo amigo de quarto. Quanto
tempo vai levar pra ele furar o travesseiro e acertar a sua cara?
— Está bem! Então,
entra logo!
Quando olhei para a
janela ele já não estava mais lá. Em seguida escutei um barulho como se alguém
tivesse quebrado um graveto e depois um estrondo, como se um armário tivesse
caído. Meu companheiro de cela estava morto. O vampiro segurava o corpo caído e
bebia o sangue direto do pescoço da vítima. O cheiro de sangue me fez vomitar
de novo.
— Estava muito bom!
Vamos sair daqui. Ah… Meu nome é Isac e o seu é…
— B-B-Beto.
— Certo B.B.Beto.
Vamos sair sem barulho. Fique atrás de mim.
Ele arrancou a porta
da cela e, segurando-a com as mãos, caminhou em direção à saída. Os policiais
atiraram, mas a porta era de aço. Pressionou os policiais contra a parede e
gritou para que eu saísse correndo sem olhar para trás. Corri para casa, mas
sabia que a noite não havia acabado e precisava pensar em uma boa desculpa para
não apanhar ainda mais… Eu não resisti à fadiga e tudo ficou escuro.
Acordei sentado na
minha poltrona. Olhei ao redor da sala e não havia sinal de ninguém.
— Maria!
Pelo barulho que
vinha da cozinha, ela parecia nervosa. Talvez procurasse o rolo de macarrão. O
cheiro de vômito e bebida era motivo suficiente para ela concluir que eu
passara a noite na farra. Foi quando ouvi aquela voz que me gelou.
— B.B.Beto?
— Isac? O que está
fazendo aqui? Eu não o convidei pra entrar.
— Sei que não, mas
segui o bom senso e pensei: “Meu amigo B.B.Beto vai se encrencar com a esposa.
Então vou ajudá-lo e assim ele me perdoará por causa da noite horrorosa”.
A porta da geladeira
se abriu e o braço da minha esposa apareceu.
— Ops!
— Maria? Essa não!
— Essa geladeira não
fecha direito, B.B. Que porcaria!
— Você a matou? Mas
que droga! Será que não fica um minuto sem matar alguém?
— Olha aí você de
novo. Ela quase me matou, sabia? Ficou dizendo que eu era seu amigo e que
levava você para o mau caminho, então pegou o rolo de macarrão e veio para cima
de mim… E você sabe que isso dói. Então, dei um sopapo nela e pronto.
— Droga! Droga! Saia
da minha casa! Sai! Sai!
— Está bem! Para de
empurrar. Você quer um conselho? É melhor vir comigo. A polícia vai gostar
dessa geladeira tanto quanto eu. Além disso, daqui a pouco é dia e isso não vai
fazer bem para você.
— Espera aí! Como é
que é?
— Bem é que… Achei
que você era frágil para continuar essa vidinha moribunda que leva, então…
— Pode parar! Não
fala nada! Cadê o espelho? Cadê? Oh, não! Cadê meu… Reflexo?
— Sabia que você ia
gostar. Nem precisa agradecer. Você ficou até mais bonitão com esse terno.
— Saia da minha
frente.
— Não fica assim,
não. Olha, conheço uma casa noturna da hora. Lá tem um monte de garotas legais.
— Eu vou sozinho.
— B.B.! Não vai me
deixar entrar no carro? Espera… Mas que cara mal-agradecido.
Escrito: por Adriano Siqueira
Comentários
Postar um comentário
Deixe seu comentários disponível aqui: